Meu último blog foi um pouco pessimista. Veja aqui: https://allabroadconsulting.wordpress.com/2019/11/09/does-brazil-die-and-kill-the-world/
Só as palavras morrer e matar em inglês já dão o tom. Recebi de leitores de direita, algumas críticas, afirmando que sou de esquerda e que sou anti-Bolsonaro. Meus amigos de esquerda por sua vez, me cobraram a não intervenção de estrangeiros na Amazônia, da mesma forma que os críticos do outro lado. Então como procuro ser “objetivo, neutro e equilibrado”, queria alavancar coisas positivas e, quem sabe, equilibradas do governo de Bolsonaro.
Em primeiro lugar, não conheço pessoalmente o Presidente e assim não tenho animus pessoal. Assim procuro separar a personalidade dos fatos. Penso que podemos separar o Presidente do estilo de campanha e de exaltação, diferente do Presidente dos atos publicados no Diário Oficial. A ideia aqui é de que as instituições, ou seja, as regras do jogo, as leis, as normas e um respeito as tradições, ainda em construção, devam e possam frear coisas mais questionáveis.
Então, apesar das intervenções aludindo o AI-5, as ameaças a mídia e os comentários desvairados de certos ministros, as regras do jogo ainda se impõem. O Congresso continua funcionando, as eleições municipais de 2020 serão normais, há liberdade para criticar o judiciário e a imprensa continua sem censura previa. Para pessoas como eu que viveram na pele o período de 1964 a 1985, a atualidade representa ainda uma democracia em construção e não o controle militar e nem o fascismo. A Constituição de 1988 ainda vigora com todos seus méritos e defeitos.
Então nitidamente, positivo, apesar das ameaças, o Brasil ainda é um país que se coloca na coluna das democracias. Se o Presidente Bolsonaro não atingir suas metas prometidas (acabar com a corrupção e reduzir a violência) ou se a percepção e os desejos do eleitorado mudarem ate as eleições, ele não será reeleito. Existe oposição. Existe também um sistema caótico e bagunçado de partidos múltiplos e, portanto, oportunidades para conquistar o poder através do voto direto.
A economia crescendo a 1% ao ano certamente não deve ser motivo de orgulho. Enfim a população cresce a 1.7% ao ano o que significa que o povo está empobrecendo. Mas, crescimento positivo também tem que ser visto como muito melhor do que recessão. A previsão para a expansão econômica em 2020, segundo consenso de economistas e agentes financeiros sondados pelo Banco Central (Boletim Focus) é de 2%, o que é ainda pouco, mas na direção certa.
Teoricamente, a economia é cíclica e no caso do Brasil a expectativa seria de recuperação já que a economia não tem demonstrado pujança há mais de 5 anos. Muitos culparam a corrupção nas administrações de Temer e Dilma/Lula e esperam, com a eleição do Presidente Bolsonaro, promessas de correção de rumos. E de fato, a nomeação do Juiz Sergio Moro para ser o Ministro da Justiça ainda é visto pelo eleitorado como avanço. Entretanto, a economia depende da confiança dos investidores e aqui há um paradoxo interessante. O mercado de ações medida pelo índice da BOVESPA está batendo recordes atingindo cerca de 111,000 pontos. Isso compara-se de forma muito favorável com o índice de menos de 50,000 pontos em 2015 quando a Presidente Dilma Rousseff ainda governava. Entretanto, enquanto a bolsa mais do que dobrou, o crescimento do PIB decepcionou.
O trabalho do Ministro Paulo Guedes e sua equipe econômica aparentemente inspira mais confiança nos investidores (nacionais e estrangeiros) da bolsa do que nos participantes da economia “real”. Guedes, por sua vez, reclama a necessidade de tempo para que as reformas do sistema de trabalho e do regime previdenciário surtam efeito. Nota-se também que o governo Bolsonaro está ganhando o crédito das reformas que já foram tentadas no passado. Por exemplo, a reforma da previdência proposta por Fernando Henrique Cardoso, que não passou por apenas 1 voto. As reformas alcançadas no governo Bolsonaro embora contestadas passaram com maiorias razoáveis no Congresso Nacional que por sua vez deve indicar uma mudança real por parte da sociedade e do Congresso em termos de suas prioridades. Há um reconhecimento crescente e positivo na necessidade fazer mudanças reais na administração publica que buscam um estado mais eficiente e produtivo, e, diga-se de passagem, menos corrupto.
As iniciativas de Salim Mattar, o Secretario Especial de Desestatização também vão exatamente na direção de reduzir o peso e o ônus de controle central de atividades produtivas. No Brasil, são centenas de empresas estatais que sempre serviram os políticos locais para alocar parentes, amigos e cabos eleitorais. O que parece no momento, e isso pode ser muito positivo, é que a sociedade começa aceitar o fato de que o custo dessas empresas seja maior do que o benefício.
O setor primário, a agro-indústria, vem há tempos sendo o motor da pouca expansão. e também contribui para a entrada de reservas através das exportações. A China é grande consumidor da soja, milho e açúcar brasileiro, mas há outros mercados também como Europa e América do Norte. E o Brasil tem condições favoráveis de aproveitar-se da guerra comercial entre o Estados Unidos e a China. Infelizmente, apesar das oportunidades, a política de promoção de exportações ainda está em definição. De positivo aqui, me parece, há a tomada de consciência dos grandes produtores que, embora lenta, consequencia de clientes na Europa e outros locais, que estão preocupados com o meio ambiente, o aquecimento global e agricultura sustentável. Até o Blairo Maggi, ex-ministro e o “rei” da soja já reconheceu a necessidade de ter uma atuação pelo menos um pouco mais “ecológica”.
O Ministro Tarcísio Freitas da Infraestrutura vem atuando com discrição, mesmo sendo reconhecido como um dos funcionários mais competentes. A iniciativa mais propagada é a rodovia BR-163 Cuiabá – Santarém. Essa estrada existe desde a década de 70 e sempre com promessas de melhoria, mas foi só no Governo Bolsonaro que foi totalmente pavimentada. A ligação de Mato Grosso ate o Rio Amazonas representou maior eficiência no escoamento da produção de soja e outros produtos agrícolas do cerrado. Além disto, a rodovia também facilitou o acesso a regiões da Amazônia legal que devem ser tratadas com cuidado e fiscalização, o que nunca existiu ate então.
A pasta infraestrutura enfoca a privatização parcial da Infraero e os aeroportos administrados pela autarquia da Infraero. Para quem viaja pelo Brasil por via aérea, é fácil notar as melhorias nos aeroportos privatizados comparadas com as ainda sob o controle estatal. A infraestrutura também abrange o sistema portuário onde privatizações e melhorias estão em curso.
Nas cidades, há indícios de uma pequena retomada na construção civil, possivelmente como reflexo dos juros com a taxa SELIC a 5%, embora o spread ainda seja considerável.
Enfim, após quase um ano da nova administração, no lado positivo, vislumbra-se na economia uma pequena diminuição do desemprego, um pequeníssimo crescimento econômico com alguma promessa de melhoria, e alguma coisinha mínima de possibilidade de desestatização e diminuição de burocracia. Na parte social, há estatísticas mostrando uma baixa na taxa de homicídios. Na parte institucional, apesar de ameaças veladas tipo volta de AI-5, o Congresso, o Supremo e a burocracia continuam funcionando embora haja os embates de uma democracia, senão consolidada pelo menos como ideia, na falta de outras opções. Na parte política, o Presidente ainda tem uma base fiel embora a fidelidade dependa da expansão do sucesso e do poder de convencimento do Presidente. Embora eleito com quase 58 milhões de votos, os novos desafios eleitorais já vêm aproximando o que também é bom.