
Sei que muitas pessoas vão discordar mas meu ponto de vista é que o Presidente Bolsonaro acaba de atingir o ponto alto de sua administração e as coisas vão piorar e ficar mais difícil daqui para a frente. A semana passada a imprensa e os apoiadores do Presidente estavam contentes com a eleição no Congresso com Rodrigo Pacheco na presidência do Senado e Artur Lira no mesmo papel na Câmara dos Deputados. Ambos são políticos vinculados ao Centrão e a interpretação geral que a nova liderança estaria de acordo com a promoção da agenda do Presidente. Sim: por que não?
Basta perguntar, qual é a agenda? E talvez aí que o porco torce o rabinho. Em princípio os problemas principais a resolver são:
- A pandemia
- As reformas incluindo o PEC emergencial e também a administrativa e a tarifaria.
- As medidas de auxílio corona vírus
- Políticas para investimento e crescimento econômico
- Privatizações
Embora o Bolsonaro recuse a reconhecer a mortalidade e morbidade causada pela Covid, ele e o Ministro da Economia Guedes aparentemente concordam que o fim da pandemia representa um sine qua non para a recuperação econômica. A postura negacionista do governo contribuiu para o alastramento de casos e mais recentemente a mesma postura atrasou a compra e produção de vacinas. Atualmente, a esperança de uma luz no fim do túnel é a vacinação. Como o Brasil tem 210 milhões, até o momento (fev. 2021) menos de 10 por cento da população já recebeu algum tipo das várias vacinas que estão lentamente chegando. Parece claro que o número de novas infecções começa a diminuir mas não ha nenhuma garantia que casos como Manaus não repetem. Os apoiadores do Presidente parecem confiar que a pandemia passará. Entretanto entre hoje e o futuro melhor, ha muitos dias e vão surgir novos casos, novas mortes e outros danos. Nem todos os convictos continuarão acreditando. O apoio ao Presidente vai cair.
Desde o início de seu mandato, o Presidente vem prometendo melhorias e reformas. O PEC Emergencial data de 2019 e desde sua redação vem sendo colocado como prioridade para o Presidente e para o Congresso. Passou todo o ano de 2020 sem votação. Agora no segundo mês de 2021, ressurge a urgência. Só que os deputados e senadores, apesar da verborragia de seus líderes não tem interesse que o PEC Emergencial passa. Ele tira dos políticos a base de seu poder ou seja: verbas e nomeações.
A situação é semelhante com as reformas administrativas e tributária. Os projetos existem mas não são votados porque representam a ameaça ao status quo dos políticos e a possibilidade de controlar o espaço burocrático e de poder. A autonomia do Banco Central foi aprovada hoje e vai para a sanção do presidente mas o impacto imediato não existe. A direção da política monetária sob o “controle” do Roberto Campos Neto só vai alterar em função da inflação e seu reflexo sobre a política de juros. Em contra distinção já se fala na recriação do Ministério de Planejamento que talvez seria sob o controle do “fura-teto” Rogerio Marinho. Da mesma forma ventila-se o reestabelecimento dos Ministérios da Previdência e até da Pesca. Na negociação do executivo com o legislativo, os deputados e senadores tem mais poder do que o Presidente.
A pandemia, o desemprego, a falta de renda e a fome exigem a reimplantação de alguma forma de auxílio. Nos EUA, vão sair cheques de mais mil dólares para praticamente todos. No Brasil, fala-se de 200 reais mensais de renda para ficar no lugar dos 300 que era 600. Só que o governo não tem recursos para pagar o auxílio sem furar o teto ou criar novos impostos.
Os impostos altos e mal aplicados, os regulamentos e a insegurança matam os investimentos, perpetuando a pobreza, desde antes da pandemia. E o Covid19 simplesmente agravou a situação. Bolsonaro foi eleito com uma agenda de acabar com a corrupção de esquerda, principalmente do PT, e ao mesmo ganhando apoio através da promoção de “valores” cristãos e na defesa da família prometendo segurança e moralidade. Ninguém importa que o Presidente está no terceiro casamento e os filhos aproveitam bastante do poder do pai. Estamos no Brasil e então nada mais natural.
Já que não tem folga orçamentária para investimentos públicos e as empresas privadas, com honrosas exceções, temem investir, ainda tem a opção de privatizar. Nos dois primeiros anos do mandato, tinha o Salim Matar, empresário bem sucedido, como Secretário Executivo encarregado de promover a venda de estatais. Ele não conseguiu, cansou e pediu o boné. O fato é que Bolsonaro nunca foi liberal e nem privatizante. Então a Eletrobrás continua pública e só a Petrobras constrangida pelas dívidas conseguiu vender para o setor privado alguns de seus ativos na área de distribuição. Existe a perspectiva do marco de saneamento básico mas o investidor, embora curioso, não está demonstrando apetite justamente por motivo da insegurança.
Brasil para desenvolver precisa de três coisas fundamentais: instituições funcionais e previsíveis, educação e liderança. Infelizmente o Presidente não tem noção de como fortalecer as instituições. Ao contrário ele acaba enfraquecendo e regredindo como demonstra o caso da intervenção na Polícia Federal. O projeto de Bolsonaro é simplesmente o poder para beneficiar o seu entorno de uma forma mais ou menos casuística. Bolsonaro nunca estudou a não ser um pouco de educação física e desmerece os professores, o ensino básico e médio, como também as universidades que na sua visão são infiltradas por todo tipo de esquerdista e minorias identitárias. Com tudo isso, o Presidente está no seu auge. Tem popularidade consistente de um núcleo solido. Ele é o mito. Mas a partir do terceiro ano de mandato, as pessoas começam a enjoar, sentir frustrações e buscar culpados. Penso que isso é o caminho que podemos vislumbrar. Brasil está nas mãos de um Centrão de interesses próprios e imediatos. Bolsonaro não tem um projeto para o Brasil. E o Brasil sem crescimento e sem perspectiva vai levar junto aquele que pretende ser o líder. O grande problema, entretanto, vem da falta de um líder alternativo. Lula já era. Ciro lembra um pouco um Bolsonaro de esquerda. Doria só tem base em São Paulo e os políticos e a população não confiem. Ha vários outros como Huck mas faltam capacidade de agregar e convencer. Com isso, o Bolsonaro, mesmo em declínio, descendo a ladeira provavelmente será reeleito por falta de concorrente. Dilma em declínio foi reeleita mesmo com Aécio Neves prestigiado e ainda com a fachada de seriedade. Bolsonaro vai caindo mas não tem quem por no lugar. Auge, declínio e vitór