
Provavelmente não foi planejado mas Bolsonaro andou pelo Oriente Médio em eventos de promoção e Lula na Europa com ar de campanha politica. Nas pesquisas os dois lideram a turma de candidatos com Lula em primeiro, pelo menos por enquanto. Ha fofocas que Bolsonaro está cansado e não quer mais. Ao mesmo tempo, já levantaram a ideia que Lula não vai concorrer. E a disputa para a terceira via mais parece a noite dos desesperados. Muita água a rolar ainda.
Mas os dois Presidentes estão promovendo, cada um a seu modo, a imagem do Brasil. Bolsonaro, contra a imprensa tradicional, leva a ideia de um Brasil em construção, aberto para investimentos num clima favorável ao capital internacional. Para ele, Amazonas não é problema já que não pega fogo e é a própria nova fronteira econômica. Lula, por sua vez, projeta a imagem de quem vai recuperar o Brasil com sua politica de redução de pobreza e incorporação social. Mas não comenta sua condenação e a roubalheira ocorrida nas administrações do Partido dos Trabalhadores. Também enrola quando questionam seu apoio aos “companheiros” Maduro, Ortega e Presidente Xi.
Lula e Bolsonaro se projetaram como “outsiders” mas acabaram incorporados pelo sistema. Lula alcançou o poder, depois de 3 tentativas infrutíferas, em 2002 com fama de socialista. Para acalmar o país, e em particular as chamadas “forcas produtivas”, Lula teve que produzir a famosa Carta ao Povo onde ele se comprometeu (junto com Antônio Palocci, também condenado pela Lava Jato) a não sacudir as estruturas básicas do mercado. Assim governou com o presidencialismo de coalização e teve que fazer os arranjos com os partidos tradicionais de centro (Centrão) o que por sua vez desembocou no escândalo do Mensalão. O projeto do poder do PT não encolheu apesar das condenações e junto com outros partidos criou um escândalo imensamente maior – o Petrólão – que por muito pouco não quebrou a Petrobras, justamente a empresa, com o Pre-Sal, que a esquerda (e outros) projetou como a salvação do Brasil.
A Lava Jato criou uma fúria e grande indignação. Mas ao mesmo tempo despertou a reação antissistema e anti-políticos corruptos, e seu sucesso mais importante acabou esvaziado. O Ministério Publico mostrou incoerência, condenações foram revogadas, os juízes tipo Sergio Moro e promotores como Delton Dallagnol já não são vistos como isentos e viraram políticos em vez de paladinos.
Bolsonaro, apesar de mais de 20 anos como deputado, também se apresentou como quem não tinha nada a ver com a politica tradicional e os malfeitores. Sua promessa foi acabar com a corrupção, moralizar a sociedade voltando para a religião fundamentalista, liberar as forcas do mercado através de liberalismo econômico e armar a população contra os bandidos. Dizendo inicialmente que iria acabar com o “dando é que se recebe”, o Presidente hoje está sob o domínio dos políticos tradicionais e basicamente rendido, restando apenas a caneta para liberar algumas prebendas e benesses na compra de apoio. As reformas prometidas, ou não saíram do papel, ou ficaram muito aquém do prometido na regulamentação e implementação. A corrupção talvez tenha saído do atacado para o varejo mas a falta de transparência continua e assim reforça a ideia que a ganancia rola e é cada vez mais parte do tecido da sociedade.
Bolsonaro e Lula no exterior apresentam duas visões antagônicas do Brasil, ou seja, a direita (Bolsonaro) contra a esquerda (Lula). E na superfície isso é verdade. Mas cavando um pouco e pensando em como o estrangeiro enxerga o país, a percepção pode ser resumida, independente de um presidente da direita ou da esquerda, a um Brasil:
sem lei,
sem administração,
sem legislativo funcional,
sem estabilidade e segurança jurídica,
com setor publico corrupto e imprevisível,
com burocracia incompreensível e fora de controle.
Para o europeu, americano ou praticamente qualquer estrangeiro ainda tem ressonância o ditado atribuído a De Gaulle: “Brasil não é um país sério.” E em seguida, vem expressões semelhantes das pessoas que não conseguem penetrar no mistério: “Ah só no Brasil”, ou talvez “Como é triste que um país com tantos recursos não consegue avançar”. Enfim, para quem é de fora, a ideia básica consiste em deixar o Brasil de lado apesar do tamanho e de seu significado em termos de mercado e o papel que tem na destruição ou preservação do meio ambiente e seus impactos climáticos no mundo.
Talvez, gostaríamos de pensar que os presidentes representam e levantam o país. Mas na realidade para as cabeças minimamente informadas e as pessoas que vão investir seu tempo e dinheiro, a percepção infelizmente venha a ser que o país do futuro não tem futuro agora. E isso não vai mudar nas próximas décadas. Assim caminha a América Latina. E piada que Argentina cambaleante de hoje representa o Brasil amanha talvez ganha cada vez mais forca. Triste mas ….
A terceira via (uma alternativa de centro) faz água e a polarização continua: então quando só tem tu, vai tu mesmo. A opção clara é a direita do Bolsonaro ou a esquerda do Lula, ou seja mais do mesmo de sempre, a esperança de um salvador da pátria.