
Dizer que o Brasil foi chato em 2021 talvez seja obvio demais. Sem duvida, foi mais um ano de crise, de Covid e de retrocessos. Mas desde que conheço o Brasil da década de 50, o país vive a rotina de pobreza, desigualdade, a falta de expansão econômica, ignorância, problemas de educação, falta de infraestrutura, instabilidade politica, violência, mortes e tudo mais. Lá se foi a renuncia do Jânio Quadros, o golpe militar (e civil) de 1964, os generais no poder, a corrupção do governo Sarney, o impeachment do Collor, a “compra” do segundo mandato pelo FHC, o mensalão do Lula, o impeachment da primeira mulher presidente do Brasil, a Lava Jato, o governo tampão do Temer, o encolhimento da economia, as 600 mil mortes por Covid, dos últimos dois anos e diminuição do país no cenário internacional com o governo Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, deve-se reconhecer que nos últimos 60 anos o país quase quadruplicou a população, diminuiu e a certa altura eliminou a fome, criou um sistema de saúde publica funcional, democratizou (com perda de qualidade) o ensino, passou a ser um celeiro mundial com a produção de alimentos, descobriu petróleo e tornou-se quase autônomo em energia, criou uma indústria de aviação e ate aeroespacial, incrementou a diversidade industrial e setor manufatureiro ainda funciona apesar dos trancos. Teve a constituinte e uma Constituição democrática em 1988 e o Brasil avançou politicamente. A população tem acesso a comunicação, mídia social e a infraestrutura de estradas, ferrovias e portos que cresceram sem precedentes. Ainda foram criados hospitais, institutos de pesquisa, e razoável sofisticação acadêmica ondes cursos de doutorado nacionais são quase tão prestigiados quanto estrangeiros. Enfim, apesar dos atrasos, da crise permanente, da desarticulação politico-institucional, o Brasil tem hoje exemplos em todos os campos, do que há de mais moderno, atualizado e contemporâneo mesmo que só sejam accessíveis a classes abastadas.
Com certeza, o Brasil podia estar melhor. Basta olhar para os países asiáticos que 60 anos atrás eram mais pobres e menos desenvolvidos do que o Brasil e hoje estão na sua frente. China é o exemplo mais óbvio mas até Vietnam hoje concorre com o Brasil exportando mais de 250 bilhões por ano com uma parcela de bens industrializados significante.
Desde a euforia de 2010 com a perspectivas de riquezas do Pre-Sal, de sediar a Copa e as Olimpíadas, a economia do Brasil quase não cresce. O governo Dilma trouxe uma recessão imensa. O país que chegou a ser a quinta economia do mundo, caiu para a decima-segunda posição, com a paulatina redução da renda per capita e o aumento do desemprego.
A vontade de sair alcança níveis inéditos principalmente entre os jovens e atinge não só aqueles com educação superior mas também aqueles, dispostos a arriscar tudo, até mesmo a vida. As mortes e assaltos de imigrantes brasileiros tentando entrar nos EUA através dos desertos no México mostram o desencanto e desespero.
Como reverter a ideia de que o Brasil não tem jeito? Propomos o oposto, onde a ideia de que o país seja viável tanto no nível individual e coletivo. Naturalmente a viabilidade precisaria de respaldo real, onde a emigração deveria ser senão uma ultima opção.
Apesar de tudo, felizmente há criatividade, empreendedorismo, e muito esforço individual. Passada a pandemia, (que certamente vai passar), muitas atividades reprimidas irão ganhar vulto.
Com a eleição geral programada, o ano novo também trará muitas oportunidades de renovação. No momento, políticos tradicionais lideram as pesquisas, com o ex-Presidente Lula, na frente, como provável vencedor. De certa forma, a reciclagem de políticos e da velha politica frustram a população. Mas as transformações precisam de tempo, e apesar dos desgovernos dos últimos 20 anos ou mais, existem avanços. Nenhum poder (executivo, legislativo, judiciário, militar ou mídia/imprensa) conseguirá dominar sozinho o cenário. Assim, os “checks and balances” persistem, com todos os defeitos e manipulações. Todavia demonstram a complexidade e a evolução da sociedade brasileira que apesar de tudo segue seu caminho como um país com uma população ansiosa por melhorias individuais e coletivas.
Olhando as dificuldades do Brasil do século XXI, poderíamos classifica-lo como um país sem futuro. Entretanto isto seria um equivoco, ainda mais neste momento de fim-de-ano e inicio de outro cheio de expectativas e boas vibrações.
Vamos iniciar o Ano Novo acreditando que os avanços conseguidos até hoje, continuem a alavancar a economia e melhorar a qualidade de vida. Exemplos ha muitos, desde iniciativas simples de turismo local, de tentativas de preservação no Pantanal e Amazônia, a intensificação do uso da terra com aumento de produtividade, invenções como o VTOL da Embraer, a reorganizacao da matriz energetica com energias alternativas, a continua melhora do nivel de profissionais em todos os setores e a mobilizacao da criatividade na sociedade civil e principalmente dos jovens. Há todo um dinamismo e busca de sucesso. Assim, o futuro, com certeza, vai chegar ao Brasil. E que seja melhor.