A Perversidade que Vem para o Bem

Acabo de assistir a posse do Min. Alexandre Morais na Presidência do Tribunal Superior Eleitoral.  O rito foi bastante instrutivo e de certa forma creio que foi especial.  No passado a posse seria um evento num calendário oficial e contaria com a presença de autoridades mas não tantas como hoje.  O drama vem sendo montado há tempo e existe uma nítida coincidência de fatores.  Bolsonaro vem criticando Morais ha muito.  Morais promete combater “fake news” e garantir a democracia e a lisura das eleições, opondo-se frontalmente com as criticas bolsonaristas.  A campanha eleitoral iniciou oficialmente hoje também.  A cerimonia contou com a presença do ex-Presidente Lula sentado bem na frente do seu adversário e principal concorrente.  Estavam presentes os ex-Presidentes Sarney, Lula, Dilma e Temer e FHC se fez presente através de uma carta a qual Morais fez referencia em seu discurso.  Além desses mais de 20 governadores compareceram bem como prefeitos das principais capitais.  Bolsonaro ficou calado.  Parabenizou Morais pela posse mas não aplaudiu o discurso.  Prevaleceu o decoro e entre os preteridos, aproveitadores e espertos, salvaram-se todos.

Todos os discursos, até do Augusto Aras, Procurador Geral da Republica e aliado do Presidente prestigiaram as instituições, a realização rotineira de eleições e a lisura do processo.  Enfim, entre os poderes oficiais, pelo menos no âmbito da cerimônia, não ha espaço para aventuras ou movimentos de contestação do sistema.

É verdade que nem o “povão” e nem os militares estavam presentes.  E como noticiou o Estado de São Paulo há mais de uma centena oficiais das Forcas Armadas recebendo salários e prebendas de mais de um milhão de reais.  Pelo lado do povo, Bolsonaro pode aludir ao tamanho de seus comícios mas resta saber se isso traduz em votos reais na hora.  Bolsonaro alega que tem maioria e repete o repertorio Trumpista de suposta maioria mas sem convencer, pelo menos até o pleito.

Nas falas de Bolsonaro, nos seus discursos, para sua plateia tem se mesquinhez, todo tipo de ataques e diminuição das instituições.  Talvez o melhor exemplo foi quando ele convocou os embaixadores estrangeiros e denunciou, sem convencer, a suposta precariedade do sistema eleitoral.  Há muito tempo ele despreza o Supremo e as instancias do judiciário e só recentemente, depois de um desprezo meio arranjado, se recompôs com o Congresso e principalmente os políticos tradicionais que tanto criticava.

São males e estragos que ele faz com seu populismo e vontade de manter se no poder.  Mas felizmente, o evento de hoje demonstra capacidade institucional de controle e manutenção de regras e da lei.

Lula também presente no evento não tinha a palavra e sentado ao lado da Dilma se conteve.  Lula, Dilma e os seus súditos do PT poderiam estar contentes já que lideram nas pesquisas.  Como a memoria é curta, talvez esquecemos dos estragos e do mal que fizeram com a Petrobras, outros estatais, e todo o sistema de corrupção que estabeleceram numa relação nefasta entre um partido de “trabalhadores” e uma elite politica e econômica.  Felizmente, o sistema reagiu.  Moro, Dalton e outros da Lava Jato justamente criticados, ainda tiveram um papel relevante no combate a corrupção e a conscientização, pelo menos temporária, da população.  Na época as instituições funcionaram e pela primeira vez, peixes graúdos, inclusive políticos, empresários e operadores foram presos e entraram, pela primeira na prisão com penas reais.  Na época do mensalão e depois no Petrolão/Lava Jato as instituições ganharam corpo.  É verdade que houve um refluxo.  Acabou-se novamente com prisão depois de condenação na segunda instancia e novas leis foram criadas que voltaram a favorecer os que cometem crimes e atos de corrupção.  Mas, para mim, o sistema hoje mostra que, como a maré, outro refluxo virá fortalecendo e avançando.  Não haverá milagres democráticos nem com Lula e nem com Bolsonaro e provavelmente um ou outro trará novos estragos mas a crescente complexidade demanda que as coisas funcionam de acordo com regras compactuadas e acordadas.  Com eleição, temos esperança, e mesmo os males acabam criando, ou talvez melhor, provocando a sociedade civil a reagir e demandar a continua construção da democracia.