Brasil no Mundo: China, Ucrânia, Rússia

AeroLula e Ideias

O presidente Lula gosta de viajar.  Ele se sente prestigiado e promove a ideia de que o Brasil “está de volta”.  Depois da desastrosa politica externa do governo anterior, Lula acerta defendendo a democracia em Washington com Biden e galgando o tapete vermelho com a promessa de reconhecimento e investimentos com a China.  Lula como politico de esquerda e sindicalista sempre carregou um certo rancor do capitalismo norte-americano e simpatizou pelas ditaduras chamadas socialistas.  As falas oficiais e extemporâneas do Presidente demonstraram bem isso.

Orientação ideológica é uma coisa, mas a defesa dos interesses nacionais é outra. O discurso que questiona o mercado e a dominação pelos interesses econômicos não bate com a realidade.  Trocas, vendas e negociações além da necessidade comercial atropelam as ideias.  O Brasil enquanto complexo agroindustrial precisa de fertilizantes e a Rússia de Putin é seu maior fornecedor.  Com isso, o Brasil se recusa a vender armamentos para Ucrânia, embora tenha condenado a invasão russa na ONU.  Tentando o equilíbrio, Lula inventa culpar os dois lados, promovendo a ideia que os EUA e  a Europa  têm  interesse em manter o conflito em beneficio próprio.  Desta forma porem,  seu discurso sintoniza mais com a politica chinesa, e acaba agradando também à Putin.

Equivoco diplomático?

A curto prazo, talvez a politica do Lula esteja correta mas a longo prazo não.  O Brasil precisa construir a base material para seu desenvolvimento.  Os investimentos chineses fazem parte dela, mas não se deve esquecer de que a economia chinesa funciona com uma mentalidade capitalista de gerar lucro e de assegurar fontes seguras de matérias primas.  Dessa ótica, os compradores na China estão contentes em comprar petróleo, minério de ferro e soja.  Seus investimentos no Brasil priorizam melhorar a infraestrutura brasileira, visando baratear o custo de suas importações.  Assim a China compra distribuidores de energia, constrói linhas de transmissão e participa na construção de portos para exportação de produtos primários.  O modelo enfim lembra o mercantilismo dos ingleses do século 19.  Portanto, vale aqui  duvidar do interesse  “desenvolvimentista” da China no Brasil. 

Existe a ideia que os EUA estão em declínio e que a China representa um poder em ascensão.  Não há duvidas de que o crescimento da economia chinesa impressiona, já que era bem mais pobre do que o Brasil ate os anos 70 do século passado, quando a sua economia decolou.  Mas lembremos de que, apesar desse crescimento espetacular, a renda per capita na China aproxima somente 13 mil dólares ao ano,  comparado com a do Brasil de 9 mil dolares, lembrando que a recessão e a estagnação derrubaram a renda per capita do Brasil que chegou a ser mais de 12 mil dólares.  (Dados de www.countryeceomy.com)  Enquanto isso, a renda per capita americana gira em torno de 75 mil, ou seja: tanto a China quanto o Brasil teem um longo caminho para fechar o “gap”.  Além disso, os EUA continuam de longe, como a primeira potencia militar.

Se o Lula está equivocado quanto ao declínio da economia americana, ele agrava ainda mais o erro com a ideia de negociar com a China em Renminbi e Reais.  A noção tem um cunho muito mais ideológico e politico do que econômico.  Nenhum país tem obrigação de usar dólares em seu comercio.  O dólar é usado porque é estável e conversível. Tanto no Brasil quanto na China não há confiança na moeda local.  Os Chineses ricos procuram expatriar seus recursos e os brasileiros também.  A força da moeda depende da confiança que a população tem em suas instituições e a ideia de que existe um sistema legal funcional e razoavelmente transparente.  Então usando moedas locais cria-se riscos enormes e desnecessários para os dois lados: importadores e exportadores.

Diplomacia Equidistante ?

Diplomaticamente pode fazer sentido o Brasil ficar equidistante dos grandes poderes, mas ele tem que reconhecer seus limites.  Ele não é membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A China poderia apoia-lo para que ele consiga um assento, embora o que é pouco provável.  Além disso, o Brasil não tem poder militar e, depois de Bolsonaro, nem “soft power” para bancar sua aspiração.  Seu prestigio, como membro dos aliados que venceram a Segunda Guerra Mundial e como país democrático e ocidental está diminuto.  Com o passar do tempo e com o ultimo governo, o país ficou mais ainda a margem.   Então acaba sendo um equivoco voltar em demasiado para a diplomacia sul – sul ou mesmo propagando a esfera dos BRICS.  Lula já tentou essa ideia e o resultado mais notório foi o desperdício e a corrupção revelados pelo Lava-Jato. 

Agora com Lula de volta para casa, ficou a impressão que o Brasil quer se projetar mas mais num caminho de favorecer a China em troca de afagos, promessas e possíveis investimentos.  Isso na realidade acaba fortalecendo a Rússia e acaba contribuindo para alongar e agravar a invasão Russa da Ucrânia, que é um país soberano.

O que é que o Brasil ganha com isso?  No plano internacional, Lula ganha projeção mas, ao mesmo tempo, entre os norte-americanos e europeus, há uma sensação de que o Brasil, querendo demonstrar independência, mostra apenas inocência e desconhecimento.  O Ministro de Relações Externas da Russia está em visita a Brasília e seguira sua viagem para incluir Nicarágua, Venezuela e Cuba ou seja países da orbita russa com governos supostamente socialistas.  A pergunta que se levanta em toda parte é: qual a companhia que o Brasil quer?

Ideias e o Material na Questão Interna

Brasil deve distinguir entre o lado material e o lado ideológico e de ideias.  Do lado das ideias, Lula está colocando o Brasil a esquerda.  Tudo bem, todos sabem das injustiças e desgracas prevalentes e da necessidade de correções no Brasil.  Mas as medidas reformistas precisam de uma base material e, nas suas ausências, as melhorias ficam só na intenção e esta inação vai piorar a situação.  Lula conseguiu promessas de investimentos.  Aluísio Mercadante, o presidente do BNDES, disse que assinou um acordo com o Banco da China no valor de mais de um bilhão de dólares, mas não divulgou os detalhes. (https://www.moneytimes.com.br/bndes-e-banco-da-china-assinaram-acordo-de-r-6-bi-diz-mercadante/)  Sabe-se que há um conflito entre Mercadante e o Ministro da Fazenda Fernando Haddad. Portanto, esse anuncio de Mercadante pode fazer parte do seu jogo politico, sendo Haddad aparentemente mais alinhado com investimentos privados e o livre jogo do mercado, enquanto Mercadante seria mais a favor de inversões controladas pelo Estado.

Embora o Brasil apareça mais e com mais credibilidade com as viagens do Presidente, ainda perduram os problemas internos.  Lula e Haddad precisam definir melhor os rumos da economia.  O tal arcabouço fiscal ainda não foi aprovado.  Existem muitas questões no Congresso e os recursos são escassos.  O governo tem razoável aprovação popular, mas se a economia não crescer e gerar emprego, o discurso de criar oportunidades e de diminuir as desigualdades poderá rapidamente tornar-se uma ilusão, com o consequente aumento da oposição e  o questionamento ao governo.